quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Diretamente da ART RIO Entrevista com "novos colecionadores"

Série Novos Colecionadores: Gilberto de Abreu / New Collectors Series: Gilberto de Abreu

30 de agosto | Entrevista / Interview, Sobre a Arte / About Art
Nosso segundo convidado para falar sobre novas coleções de arte é praticamente um militante da arte contemporânea. Dono de um blog super interessante sobre o tema, Gilberto de Abreu, jornalista e consultor de comunicação de 41 anos, utiliza redes sociais como facebook e twitter para tecer suas opiniões, sugerir outros blogs e veículos sobre o tema e dar dicas e curiosidades sobre arte.

Como um típico colecionador, ele é cauteloso na hora da compra e dá prioridade a obras de artistas nacionais que se destacam na atualidade: “O preço conta muito. Querendo ou não, o acesso aos brasileiros ainda é maior que aos estrangeiros. E tem ainda a questão da importação de uma obra de arte internacional, que encarece o custo final, e nos obriga a lidar com trâmites burocráticos inimagináveis se lidarmos com isso dentro da “normalidade”’, conta.

Quais os critérios em que você se baseia para comprar uma obra de arte contemporânea?

Antes de tudo, penso no que a obra – que entendo como o conjunto de trabalhos – representa. Costumo me envolver pela temática do conjunto, pela poética da linguagem e pela solução encontrada pelo artista no desenvolvimento do trabalho em si. Como sempre penso no tempo presente, nunca vislumbrei uma aquisição como investimento futuro.

Fale um pouco da sua coleção.


A maior parte dos trabalhos são em papel (desenhos, gravuras, serigrafias), de artistas como Cildo Meireles, Daniel Senise, Efrain Almeida, Hildebrando de Castro, José Leonilson e Lígia Teixeira. Conhecer a todos pessoalmente é um grande privilégio. E conviver com eles diariamente é algo que não se pode precificar.

O que você destacaria?

É difícil… Cada item da coleção possui uma história, que marca um momento da minha vida. Gosto muito de objetos tridimensionais, e destacaria os produzidos por Anna Bella Geiger, Márcia X, Paulo Roberto Leal e Walton Hoffmann. Este último uma reedição de 2001, a partir de um original de 1973, quando eu tinha apenas três anos de idade. Se tivesse que eleger os que mais admiro, seria injusto com os demais… Um pequeno desenho de Tatiana Grimberg talvez seja o mais emblemático. Foi comprado por impulso, sem a menor dúvida de que merecia tê-lo comigo. Outro que destaco é uma gravura de Efrain Almeida, comigo há quase 20 anos. Ganhei do artista no mesmo dia em que sofri um grave acidente de trânsito. Tê-la até hoje é um gesto de resistência à vida. Outro que amo incondicionalmente é um díptico de Rosana Palazyan, da chamada série das formiguinhas. Não se compara à instalação feita pela artista na parede da casa em que morei, mas é o que ficou dela.

Para você, quais foram as principais mudanças que aconteceram no mercado de arte?

Penso que a arte contemporânea brasileira vem encontrando, desde os anos 2000, grande ressonância mundial. Isso pode ser confirmado se analisarmos a trajetória internacional de nomes como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto, citando apenas três. O interesse comercial pela produção de nossos artistas, jovens e consagrados, tem feito com quem muitos produzam especialmente para o mercado internacional. Muito do que se produz sequer é exposto no Brasil, o que gera até um certo desconhecimento sobre a trajetória dos artistas. Parte do que produzem eu conheço apenas dos livros, ou de reproduções que vejo na internet.

Na sua opinião, a internet modificou o cenário das artes?

Eu diria que a circulação de informação pela internet, e a presença dos jovens artistas na grande rede, tem impresso um novo ritmo ao colecionismo de arte. A figura do marchand, determinante para o artista que pretendia viver de arte no Brasil nos anos 90, já não é tão determinante, ainda que eu a considere fundamental para o profissionalização da engrenagem como um todo. Queira ou não, o jovem comprador – colecionador ou não – tem hoje a possibilidade de lidar diretamente com os artistas, evitando assim a figura de “atravessadores”, como os designers de interiores, por exemplo. É inegável que estes têm um papel importante na economia da arte, uma vez que aproximam colecionadores em potencial do circuito comercial. Mas fico pensando: até que ponto seus interesses profissionais vão de encontro às expectativas do consumidor final? Antes de tudo, é importante termos em mente o tipo de relação a se estabelecer com a arte contemporânea. Jamais compraria algo para combinar com o sofá, ou para colocar em cima da cama…

Como você vê a oportunidade de comprar boas obras a preços mais interessantes já que foi autorizado pelo governo que a ArtRio tivesse isenção do ICMS em operações com obras de arte destinadas à Feira?

Toda e qualquer forma de isenção é saudável para o mercado. Encoraja quem quer comprar, e funciona como argumento de venda para quem está no outro lado da operação.

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